terça-feira, 24 de outubro de 2006

De boas intenções, o inferno está cheio


Ou, os aspectos efetivo-emocionais que envolvem a avaliação da aprendizagem

Ou ainda,
Como é bom ser avaliado! Mentira, Freud explica!

Refletir sobre avaliação é um processo árduo, mas não tão duro quanto vivenciá-la, seja como avaliador ou avaliando. Nesse momento, estamos todos assumindo ambos os papéis. Na qualidade de avaliador, queremos ser justo, francos, abertos. Buscamos estipular critérios claros, diálogos franqueados, espaços de interação abertos para avaliados e avaliandos. A Linguagem se delineia compreensiva, amena.

Mas, por que então essa sensação de algo que não podemos controlar que paira no ar?

Como avaliados, queremos mostrar o melhor de nós, da nossa capacidade, do nosso potencial – mesmo que naquele momento, o melhor de nós seja muito pouco frente o que o outro espera. A falha está no blog que não oferece recursos, na falta de tempo, no professor que não explicou direito o que era para fazer, nas justificativas que fogem aos critérios consensados do início da proposta, nunca nas nossas impossibilidades.

Ao falar da subjetividade, quero a partir dessa vivência, dar realce aos aspectos afetivos-emocionais presentes na avaliação.
Quem suscitou essa reflexão foi um visitante anônimo – que se manifesta também via celular – que, usando da mediação semiótica, indagou:

e quanto ao que escapa totalmente das ferramentas e estratégias de avaliação?
Como considerar isso? É preciso considerar isso?


Gostaria de refletir sobre o que foi posto, pois envolve a temática de todos os blogs do grupo.

O que pode escapar a avaliação?
O que as ferramentas avaliativas não dão conta?
Como avaliador, preciso considerar o que escapa?


Refleti muito e cheguei a conclusão de que "o que me escapa é o que não me é sensível aos olhos".

É duro fazer auto-crítica. É desconfortável olhar para nossas falhas. Dessa idéia demanda os títulos desse texto. Uma pequena ação é muitas vezes, muito mais significativa do que as intenções que demonstramos. O par avaliativo se encontra na intersubjetividade dos mesmos. Não há avaliador, nem avaliando, mas um sistema observante.

Muitas vezes as portas para o diálogo estão abertas, mas não nos permitimos passar por ela. Não aceitamos a aproximação do outro. Não nos mostramos para ele. E, assim, mesmo com todo o cenário preparado, o ator não entra em cena e a avaliação vira um monólogo ou um falso diálogo cuja palavra final já está determinada. é essa a sensação de auto-estar da avaliação, a palavra final sobre você nunca é sua!

Depois dessa mea-culpa, tenho um propósito como balisador dessa atividade: não permitir que o que não enxerguei, o que deixei escapar, o que a ferramenta que utilizei para avaliar não deu conta, não mate no outro, o desejo de crescer.

Reflitam.

Jaqueline Ferraz

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Jaqueline,

Olha eu aqui visitante, observadora e avaliadora do seu blog.
Tenho visitado outras vezes, não apenas o seu mas de todos os colegas. Mas hoje, ao revisitá-lo e ler a sua última postagem sobre os aspectos efetivo-emocionais que envolvem a avaliação da aprendizagem fiquei muito mais tranqüila por perceber que as angústias e inquietações que nos invadem na vivência do processo avaliativo dos blogs são universais ao grupo.

Comungo plenamente com suas idéias, sobretudo com duas assertivas :
1- "o que me escapa é o que não me é sensível aos olhos".
2- “não permitir que o que não enxerguei, o que deixei escapar, o que a ferramenta que utilizei para avaliar não deu conta, não mate no outro, o desejo de crescer.”

Parabéns pelo seu blog.

Sandra